Lembre-se: dados são resultados de processos na empresa, e isso nunca ficou tão claro para mim quanto quando comecei a prestar mais atenção nos bastidores das decisões que tomamos diariamente aqui. Às vezes é fácil esquecer que aquele número no relatório ou aquele gráfico bonito numa apresentação não apareceu por mágica. Ele é consequência direta de escolhas feitas, fluxos executados e rotinas implementadas. E, acima de tudo, ele só faz sentido quando compreendemos o caminho até ali.
Lembro de um gestor com quem trabalhei que sempre dizia: “Você controla o processo, o resultado te mostra o quanto ele funciona.” Na época, eu achava essa frase bonita, mas um pouco genérica. Até que um caso no escritório me fez entender exatamente o que ele queria dizer.
O colega que quis investir antes de entender os dados
Certa vez, um colega do setor de marketing decidiu apostar alto em uma nova campanha digital. Segundo ele, os dados provavam que o retorno seria alto. No entanto, ao investigar melhor, percebi que aqueles números tinham origem em processos desatualizados e métricas mal definidas. O mais curioso? Ninguém questionou o processo – só os resultados.
Foi um aprendizado valioso: não basta olhar os números. Precisamos entender como eles foram gerados. Os sistemas, as rotinas, as ferramentas usadas e os métodos de análise. Tudo isso interfere diretamente no que será colocado nas mãos dos tomadores de decisão. E aí, qualquer ideia baseada em números que não foram bem construídos pode comprometer tempo, dinheiro e até a reputação de uma equipe.
A importância de processos bem definidos para dados confiáveis
Tive um coordenador de projetos muito exigente com documentação. Ele dizia que “qualquer dado que nasce fora de um processo é só uma opinião disfarçada de número”. Isso ficou marcado em mim. Na prática, ele se referia à importância de garantir que os processos fossem claros, replicáveis e auditáveis.
Uma vez, em uma análise de produtividade, os resultados mostravam que uma das equipes era extremamente eficiente. No entanto, descobrimos que o sistema responsável por contabilizar as entregas daquela equipe estava duplicando entradas por um problema no fluxo de atualização. Isso só foi percebido porque o analista de dados, já experiente, desconfiou da velocidade de crescimento e quis investigar como aquele número era calculado.
Esse episódio só reforçou para mim que dados não são a causa de nada; são efeito. E quando o processo que os gera está falho, o que teremos nas mãos será uma ilusão confortável – mas uma ilusão, mesmo assim.
Dados são resultados de processos na empresa – por isso, precisamos de métricas bem construídas
Uma colega de outro departamento certa vez me contou como um projeto de transformação digital que liderava fracassou, não porque a ideia era ruim, mas porque ninguém pensou nos indicadores certos. Usaram os dados que “estavam facilmente disponíveis”, mas não os mais relevantes.
Na ausência de processos consistentes de coleta e validação, a equipe ficou tomada por dados superficiais, que pareciam indicar sucesso, mas que pouco dialogavam com os reais objetivos de negócio. O projeto foi encerrado seis meses depois, sem entender como nem por que ele não deu certo.
Essa experiência me mostrou algo que levo comigo até hoje: antes de sair gerando dashboards, é preciso sentar, revisar os processos e garantir que cada métrica reflete um comportamento que realmente queremos mensurar.
Quando o foco é só o dado, perdemos a inteligência do processo
Tive uma professora que sempre dizia durante a pós-graduação: “Os dados contam histórias, mas é o processo que escreve o roteiro.” Ela adorava nos dar estudos de caso onde tínhamos todos os números, mas a missão era descobrir como eles haviam sido produzidos.
Em uma dessas atividades, lembro que analisamos uma cadeia de suprimentos onde os índices de eficiência pareciam fantásticos. No entanto, ao traçar o processo, percebemos que o custo humano estava elevado: longas horas extras, retrabalho e uma rotatividade altíssima nas equipes. “Esses dados escondem uma dor”, concluiu um colega ao apresentar o trabalho.
Esse exercício me ensinou que os números podem sim contar meia verdade – se não analisarmos o processo que os originou, há grandes chances de tomarmos decisões equivocadas, ainda que embasadas por relatórios aparentemente “robustos”.
Automatizar sem revisar processos é multiplicar erros eficientes
Me recordo de uma consultora que trabalhou temporariamente conosco durante uma implementação de um novo sistema de gestão empresarial. Ela dizia que “automatizar algo errado só faz o erro acontecer mais rápido”.
Ela tinha razão. Durante o rollout, uma pequena etapa do processo de faturamento foi ignorada no novo sistema. Durante semanas, os dados mostravam que tudo estava funcionando. As metas estavam sendo cumpridas. Mas as análises de caixa começaram a apresentar distorções. O que era?
Era um detalhe no processo antigo que garantias de cancelamento e cobrança estavam sendo devidamente registrados. Sem ele, o sistema novo processava tudo “certo”, mas incompleto. E, claro, os dados refletiam essa nova realidade – sem que ninguém tivesse percebido a ausência.
Foi uma lição dura para o time técnico, mas muito produtiva para nós. Aprendemos que melhorar a tecnologia sem revisar os processos é um erro tão comum quanto perigoso. Afinal, o dado é só um reflexo do caminho que percorremos.
Conclusão: Processos moldam resultados – e os resultados moldam decisões
Depois de anos lidando com projetos, equipes, dados e decisões, posso dizer com tranquilidade: dados são resultados de processos na empresa, e quando falhamos em entender esses processos, corremos o risco de agir às cegas.
Se quiser confiar no que os números explicam, pergunte antes o que os números não mostram: como foram criados, de onde vieram, e quais processos os tornaram possíveis. Essa consciência é o que diferencia a gestão imediatista da gestão inteligente.
Se tem algo que aprendi com todos esses casos, é o seguinte: dado ruim, extraído de processos fracos, gera decisões que parecem certas – até que o erro bata à porta. Por isso, hoje, antes de qualquer análise, procuro entender o processo por trás do número. Porque é ali que mora a real história da empresa. E é dali que vamos extrair nosso verdadeiro potencial de mudança.
